quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Sobre a transliteração de palavras chinesas


Hoje trago um tema que exigirá bastante atenção para ser compreendido, por envolver várias questões idiomáticas e até políticas que, infelizmente, não são bem explicadas em língua portuguesa ou mesmo em outros idiomas.

Como muitos sabem, antigamente na Coreia utilizava-se os caracteres chineses (obviamente, não simplificados) que eram lidos de forma coreana. Estes caracteres chineses em coreano são chamados de hanja (漢字) e, nos dias atuais, não são mais utilizados na vida cotidiana tanto no norte como no sul.

Tendo em vista a situação difícil das pessoas não-literatas com relação ao hanja, que era, em poucas palavras, uma linguagem da classe dominante, o rei Sejong orientou a criação, do zero, do alfabeto coreano que era muito mais simples de ser compreendido mesmo para aqueles com pouca instrução.

O chamado Hunminjongum (훈민정음) - que significa "pronúncia correta para a educação do povo" - foi publicado em 1444, mas sofreu resistência da classe literata por séculos, sobretudo após a morte de Sejong. Só foi oficialmente reconhecido em documento no final do século XIX por pressão popular, incluindo as revoltas camponesas e o desenvolvimento do chamado "nacionalismo coreano".

Entretanto, apesar da rejeição que recebeu durante este longo período, foi usado nos séculos XVI e XVII por alguns poetas e romancistas. Por vezes, os caracteres coreanos eram misturados com os chineses.

No período final da dinastia feudal de Joson o alfabeto coreano já era utilizado amplamente nas escolas, juntamente com o hanja que não foi excluído e que ainda era predominante nas principais publicações - livros, jornais, cartas, etc - devido ao longo período que esteve em vigência como única forma de escrita.

Com a ocupação do Japão na Coreia o idioma coreano sofreu grave risco de extinção com a proibição do ensino da língua natal e o ensino sistemático do idioma japonês. Todavia, muitas escolas clandestinas continuaram ensinando o idioma e impediram um estrago maior dos imperialistas japoneses.

Com a libertação da Coreia em 1945, a ideia que se tinha era continuar o desenvolvimento da língua coreana e a gradual retirada do hanja da vida cotidiana da população. Entretanto, com a divisão da Coreia, norte e sul tomaram rumos diferentes em relação ao desenvolvimento da linguagem e preservação dos traços culturais.

Sob o domínio dos imperialistas estadunidenses e dos traidores da nação pró-japoneses, na Coreia do Sul valorizou-se novamente o hanja nas publicações, bem como a introdução do japonismo e do anglicismo.

Em contraste, na Coreia do Norte houve uma grande preocupação com a questão linguística desde o ponto de vista do desenvolvimento da língua coreana pura - sem excessivas derivações de outras línguas - como também com a não criação de "dois idiomas" diferentes no norte e no sul.

O grande Líder camarada Kim Il Sung deu instruções justas para que o hanja não fosse mais usado, por meio de um processo gradual, com o uso exclusivo do alfabeto coreano, o Josonmal (조선말).

Instruiu os linguistas para que se fizessem neologismos (criação de uma palavra através de outra) puramente coreanos de forma a preservar as valiosas tradições do povo coreano.

Por outro lado, na Coreia do Sul, em que os neologismos eram feitos, em grande parte, por meio de palavras derivadas do chinês, japonês e até mesmo do inglês, uma transformação linguística foi observada. A situação pioraria ainda mais com reformas linguísticas ainda nos anos da década de 1950, que diferenciaram muitas palavras no norte e no sul.

Atualmente fala-se, entre os estudantes de língua coreana (em maioria, baseados no dialeto de Seul) que "o Norte" fala diferente, e propaga-se até mesmo a errônea ideia de que ainda utiliza-se hanja no norte.

Ademais, se formos analisar, o idioma adulterado falado no sul é hoje ensinado como" a língua coreana" como se fosse a original e propagado aos estrangeiros interessados em aprender desta forma, o que é, de um ponto de vista histórico, um evento lamentável.

Poucos dizem, ou tem coragem de dizer, mas o coreano puro é o falado na República Popular Democrática da Coreia, que defende as raízes históricas deste belíssimo vernáculo há mais de 70 anos.

Mas, veja, não estou criticando os cursos de coreano, que são válidos e eu inclusive curso um atualmente, somente apontando uma questão muito mais profunda cuja responsabilidade maior provém do Estado fantoche sul-coreano.

Uma concepção básica que deve-se quebrar o quanto antes, em relação direta com a questão linguística e suas diferenciações norte-sul, é sobre a palavra "Coreia".

Coreia é Joson (조선), ponto. Esta palavra foi cunhada há cerca de 5000 anos e adotada para nomear a última dinastia coreana que surgiu no século XIV. Como o alfabeto coreano foi criado durante esta referida dinastia, a palavra originalmente era escrita em hanja: 朝鮮

A palavra hanguk (한국) foi criada posteriormente pelos fantoches sul-coreanos, sob a escusa de "diferenciar da antiga dinastia feudal". No norte, quando se refere à última dinastia feudal fala-se 조선시대 (dinastia coreana), da mesma forma que se fala no sul, porém, os fantoches sul-coreanos quiseram usar o "han" para se referir à Coreia, como uma forma explícita de separar sul e norte.

A palavra 한국 de forma literal quer dizer "país coreano", no entendimento sul-coreano. Outros dizem que deriva-se do rio Han (한강) que tem importância histórica na Coreia, mas essa última hipótese é quebrada no entendimento de que o hanja para o rio Han não é 韓 ("Coreia"), mas 漢 (chinês).

Han (한) neste sentido adquiriu o significado de "grande", "ótimo" ou "largo", diferenciando-se do "han chinês" que tem a mesma pronúncia mas significado diferente. Mas isso não muda o fato de que a origem vem do chinês, tampouco que visou separar norte e sul.

Esmiuçando a palavra para melhor entendimento, 한 seria grande, ótimo ou largo, e 국 significa país.
O nome oficial da chamada "República da Coreia" é 대한민국. Nesse caso temos o "Coreia" sendo tratado como "대한" - em que 대 tem o significado, separadamente, de grande - e 민국 é tratado como "República" (que no norte diz-se 공화국).

Sendo Coreia 조선, Coreia do Norte é 북조선 e Coreia do Sul é 남조선. Se a Coreia do Sul fosse um Estado oficialmente reconhecido pela RPDC, seria chamada de (남)조선공화국, que é, literalmente, República da Coreia (do Sul).

Entendido isso, podemos voltar para a questão do hanja e fala um pouco sobre sua função nos dias atuais, as diferenças norte-sul (sem, até mesmo nesta parte vamos ver isso) e por fim, sua transliteração que é nossa conclusão e ponto-chave para a explicação.

O hanja não é mais ensinado nas escolas coreanas (nem no norte, nem no sul), apenas em cursos e instituições voltadas para aqueles que tem interesse em aprender, especialmente estudiosos de história e outros temas relacionados aos tempos antigos que exigem ler documentos escritos em hanja. Há muitos tradutores do hanja para o coreano tanto no norte como no sul e várias publicações de grande valor foram traduzidas.

Para entender melhor, diferente dos chineses, que usam seus caracteres e leem de sua forma, os coreanos leem os caracteres de "forma coreana". Ou seja, se você quiser ler o hanja sabendo o alfabeto coreano (igual no norte e no sul) você precisará saber o som equivalente de cada caractere.

Até nisso encontramos diferenças norte-sul, o que se deve à reforma na escrita na Coreia do Sul.

Vou dar um exemplo para melhor compreensão. A palavra história no norte é 력사 e no sul 역사, mas o hanja para as "palavras" é um só 歷史. Esmiuçando, 歷 é pronunciado como 력 ou 역, enquanto 史 é pronunciado como 사 .

Vala frisar, tomando a palavra "história" como exemplo, que originalmente, também no sul (nos primeiros anos de ocupação estadunidense) se falava 력사 e não 역사. Em certas regiões da Coreia do Sul ainda há aqueles, de mais idade, que falam da forma original. Essa é a comprovação explícita do crime contra a língua coreana que recai sob os fantoches sul-coreanos e os imperialistas estadunidenses, e que não pode passar batido, ou pelo menos não deveria.

Para encerrar, vamos nos aprofundar um pouco mais na questão que mostrará uma diferença gritante norte-sul.

O caso em questão é a tradução de nomes, palavras, lugares, etc... chineses.

Embora nenhuma das partes vá usar hanja nesse caso, há duas formas distintas que podem confundir muito os estudantes da língua coreana. Eu fui um desses.

No sul os nomes, em geral, são lidos da forma como se pronuncia na China. Ou seja, o hanja não atua nem de forma passiva, mas o caráter nacional se perde em parte, se formos analisar aprofundadamente.

Entretanto, no norte, os nomes chineses são transliterados de acordo com o hanja. Ou seja, são lido de forma coreana, não de forma chinesa.

Um exemplo clássico que chamou a atenção até mesmo de muitos sul-coreanos que desconheciam esta questão é a do nome do Presidente da China, Xi Jinping.

Em chinês, seu nome é 習近平 que, segundo o Pinyin - método padrão de transliteração do chinês - fica Xíjìnpíng, que ocidentalizado fica Xi Jinping - com o devido cuidado com a pronúncia é claro.

Na Coreia do Sul seu nome é escrito como 시진핑 que de forma romanizada fica "Shi Jin Ping", que é uma forma quase idêntica ao do chinês.

Porém, na RPDC ele é chamado de Sup Kun Pyong (습근평). Mas que diabos é isto? Muitos sul-coreanos pensaram assim quando viram a mídia coreana se referir ao presidente chinês durante as recentes cúpulas com o Máximo Dirigente Kim Jong Un.

A explicação não é complicada, observe:

De acordo com o hanja, 習 sup / 近 kun / 平 pyong.

Em outras palavras, utiliza-se o hanja nesses casos para transliterar e coloca-se o nome em caracteres coreanos. Diferente, não?

Vou dar mais alguns exemplos:

O famoso revolucionário chinês, ex-Primeiro-Ministro da RPC, Zhou Enlai (周恩来) é chamado de Ju Un Re (주은래).

A província chinesa de Xianxim (陕/陝) é chamada de Somso (섬서)

Há casos que não mudam tanto assim, vejamos o exemplo:

A cidade de Jilin (吉林), de grande importância também na revolução coreana é chamada de 길림 (Jillim).


Espero que tenham compreendido o tema. Qualquer dúvida é só perguntar.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Dicionário coreano-português (5)


개천절 - Dia de Fundação da Coreia
소리마디 - sílaba
가스 - gás
기와 - telha
차대 - chassi
분소 - filial
한길 - único caminho
한생 - vida
로보트 - robô
날려라 - voar, flamejar
개념 - conceito
추상적인 - abstrato
참매 - açor
전할 - transmitir
일념 - resolução
준법 - obediência à lei
단위 - unidade
담배 - cigarro
바쳐 - oferecer
성대히 - magnífico
고문 - conselheiro, assessor
착공식 - cerimônia de início de construção
철수 - retirada
다락 - celeiro
세균 - bactéria
자체수양 - autodisciplina
땅크 - tanque de guerra
호포 - disparo de canhão
배타주의 - chovinismo
두려움 - temor